quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Concerto único

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Estudei com o Manguinha, Eduardo França, por três anos. Os dois primeiros anos do Segundo Grau, mais o cursinho pré-vestibular, equivalente ao terceiro ano. Quando o conheci, era alto, esguio, dono de um nariz de responsa e farta cabeleira encaracolada e negra.

Devo ao Manga descobertas musicais importantes, como Bob Dylan (o Greatest Hits 2, disco duplo importado, de vinil, me foi emprestado por ele), Cream, Neil Young, Jefferson Airplane e sua cisão, o Hot Tuna e o Starship, além de outros grupos mais obscuros dos quais não me lembro.

Comecei a ouvir música, toda sorte dpe música – com exceção da bunda music, como rotulo axé, funk, pagode e sertanejo (não confundir com caipira, ritmo genuíno e imune à plastificação) e genéricos, em 1974. Foi naquele ano que o Betão, meu cunhado, mudou lá pra casa. Largara a família – mãe e avós maternos – aqui em Copa e a PUC, onde cursava o primeiro ano de Física. Em dezembro de 74 fomos, eu, Beto e Nora, ao Rio comprar presentes. Ficamos um sábado em Lins de Vasconcelos, bairro fronteiriço ao Méier, onde morava meu tio Fante, irmão de minha mãe, tia Matilde, e meus primos, Cláudia e Carlinhos. Esta observação é digna de nota: sabem qual era o nome do meu tio Fante? A pergunta só tem valor retórico, uma vez que ninguém, ninguém, a não ser minha avó e meu avô -- a quem não cheguei a conhecer – poderia cometer tal desatino: chamar alguém de Mesophante. Ou seja, o Ricardo, que carrego agregado, de mal grado, mas carrego, ao Eros, é pinto diante de Mesophante.


Trago na lembrança a capa de “Milagre dos peixes” – o primeiro Milton a gente nunca esquece – e os primeiros E,L & P, Genesis e Yes que entraram na minha vida.
Dois anos mais tarde, no primeiro ano do Segundo Grau, o Macedo Soares resolveu reunir numa só turma os melhores alunos da casa e os melhores vindos transferidos de outros colégios. Eu, que não era nenhuma sumidade, mas que também não era um jerico, fui para o 1º E, mesmo destino de gênios como a Maria Inês, transferida de um colégio de Barra Mansa, Ronaldo, vindo da Fevre, um colégio em Volta Redonda, mesma origem de Manga, outro ótimo aluno. Edisom e Guilherme rivalizavam o posto de melhor (e mais chato) aluno do próprio Macedo.



Bem, mas acontece que o Manguinha me chamou a atenção – já antenada musicalmente – para um monte de coisas legais. Então resolvi aprender a tocar violão, tornando-me um “bardo acústico” – logo eu, que não falo, hesito.

Passei a subir duas vezes por semana o morro em que se transformava a Rua 31, a partir da Rua 26. Logo atrás da bela Igreja de Santa Cecília ficava um Centro Cultural, onde professores davam aula de quase tudo a quase ninguém a módicos preços. Meu professor, cujo nome me escapa agora, era notório mestre de música, conhecia várias pessoas que aprenderam os primeiros acordes com ele.

Que tive umas duas semanas de aula, as seis horas. Logo na quarta aula, o professor, cujo nome, era algo como
Penteado, insistia em “Irene”, do Caetano, que devia ter, no máximo, três acordes e era molinho e alvissareiro mesmo para iniciantes.
Assim, não esperei muito para submeter-me à apreciação de meu guru musical. Chamei-o até em casa, e no meu quarto tentei reproduzir os poucos acordes e cantar os versos. Foi um fiasco. Sequer conseguia tirar as notas do violão e com a minha voz esganiçada tentei cantar. Qual um Belchior desrítmico insistia em “Irene rir/ Irene rir/ Irene rir/Quero ver Irene dar sua risada”. Foi surreal. Não havia ritmo. Apenas o Manga a chorar de tanto rir do meu patético desempenho ao violão.
-- Muito bom, Eritos! Engraçado pacas!! – disse Manga, refreando seu entusiasmo devido ao meu repertório de uma nota só.

Despediu-se de mim e foi até à padaria Central, a uns 300 metros da minha casa, beber uma prosaica Coca-Cola.
E assim, a MPB perdeu um enorme talento (eu). Isso foi num sábado. Na segunda seguinte, já não fui ao Centro Cultural na 31. E o violão quedou-se num canto, de onde foi resgatado, não muito tempo mais tarde pela minha irmã, ela sim, uma boa violonista.

4 comentários:

  1. Realmente não me lembro de já tê-lo ouvido tocar violão (mas ó, eu não me lembrar, a essa altura do campeonato, não quer dizer nada).

    De qualquer maneira, eu me lembro do quanto você era/é ficcionado em comprar cd.

    Tinha/tem tantos que um dia, já no apartamento atual em Copa, chegou a me oferecer alguns, para eu levar na boa.

    E eu levei bem uns quatro ou cinco.

    Pena que, tempos antes, não era assim, e pediu de volta o "Pulp Fiction" (que eu devolvi, também na boa, sem copiar nada, pois não vou passar recibo de "pirateador").

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  2. querendo, pega de novo o pulp aqui, na sexta. eu ERA fissurado em comprar Cds. hoje, tenho outras prioridades. e menos grana.

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  3. Cara, revendo este post, não sei como pude deixar passar uma piadinha infame...

    Você levantou a bola com: "sabem qual era o nome do meu tio Fante?"

    Pois a resposta seria: "pergunte ao pó".

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  4. décio


    do caralho a infâmia!! inda mais que nunca, nunca tinha pensado nisso...Mesophante é o nome.

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