terça-feira, 15 de junho de 2010

Lumiar e polenguinho 1.4

Não lembro exatamente quando foi e por que escolhemos Lumiar. Sei que foi o grupo mais eclético que jamais conseguimos reunir. Eu e Claudia mais nove amigos, de quatro grupos diferentes. Foi antes de 1989; sei que eu inda não estava casado com Claudia, tão pouco Aurélio, um amigão meu do Voltaço, casara-se com
Mônica (eles se separaram há dois anos e tem um filho de 21 anos, o Rafael). O casal era um dos grupos ecléticos que subiu a serra.
Na época, o Aurélio tinha um Passat vermelho e era o único que foi motorizado para Lumiar. Nós outros, fomos de buzão mesmo.

Acho que foi numa Semana Santa que fomos conhecer a cidadezinha que era título de música do Beto Guedes.Também não tenho certeza quanto à pousada: se reservamos daqui ou foi nossa única opção naquele paraíso de bichos-grilos. Afinal, era um feriadão e Lumiar, como todos os cantos turísticos do Brasil, estava cheia de urbanóides, como nós, além dos b.g. de sempre.

A segunda alternativa – última e única opção – ganha força diante da porcaria que era a pousada. Isso pode se imaginar apenas lendo o letreiro em frente ao casario: “Pousada do Klein”. As dependências até que eram limpinhas, apesar do tal do Klein parecer um adepto de uma dessas seitas apocalípticas que prenunciam o fim do mundo.

E o regime interno da pousada era o óu. Era vetado qualquer tipo de barulho depois de 22h30m. Ah, devia ser por isso que a pousada jazia vazia em pleno feriadão... Numa terra onde só tem bicho-grilo, você exigir silêncio total a partir de dez e meia é pedir pra falir.

Mas foi um aviso afixado na parede dos quartos que nos chamou a atenção. “ É terminantemente proibido queimar vela fora da latinha”. Procuramos e nada de latinha ou vela. Aí fez sentido o que o André Fábio, companheiro de Jornais de Bairro e meu vizinho de rua -- morávamos em dois dos últimos prédios da Benjamin Constant, na Glória, separados por duas casas de tolerância.
__ Hummm. Isto está mais parecendo uma proibição para não fumar maconha. Exato! É um código: onde lê-se “é terminantemente proibido queimar vela fora da latinha” deve-se ler “é terminantemente proibido queimar maconha” – matou a charada nosso Sherlock Holmes que dividia o quarto com outro amigo do Globo, que vem a ser padrinho de nosso filho mais velho (temos trigêmeos), Milton Calmon.

André Fábio fez algo em 1991, isto é, há quase 20 anos, que é um enigma até hoje para mim. Éramos grandes amigos – de freqüentar a casa um de outro e filar bóia sem qualquer constrangimento – e isso se seguiu ao meu casamento com Claudia. Depois de morar um bom tempo na Benjamin Constant, ele mudara-se para a Conde Laje, também na Glória. A Glória é um dos menores bairros do Rio. Visitávamo-nos regularmente, mas sem qualquer motivo aparente, André parou de nos procurar. Simplesmente riscou-nos de sua relação de amigos. A gente perguntava o porque daquele notório esfriamento de relações e André sempre saía pela tangente.
-- Não há nada. Só num deu para aparecer –- justificava (?) ele, quando reclamávamos de seu súbito gelo.

André tangenciou rapida e definitivamente, mudou-se da Glória e pulou fora de nossas vidas. Sinto falta de nossos papos sobre cinema e música pop (tínhamos, eu e ele, uma porrada de vinis e emprestávamos, um ao outro, discos com frequência). Bem, bola pra frente ou bico pro mato/que o jogo é de campeonato.

7 comentários:

  1. Eros, quem não passou por esse batismo de fogo de subir a serra pra um lugar cheio de bicho-grilo? que jogue a primeira pedra...
    Mas, minha impressão e que o texto trata muito mais de um pedido de reconciliação a um amigo sumido e muito querido - contando com a força da rede mais ampla de amigos - do que de Lumiar....
    mas fico aguardando os próximos capítulos...essas são também minhas memórias, com as minhas particularidades, claro!
    Um beijo grande pra Claudia e pra vc,
    Renata (irmã do Flávio)

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  2. Edwiges, vulgo Diudiu16 de junho de 2010 às 15:49

    Cara, esse Klein deve ser, pelo menos, contraparente de um que tinha (tem?) pousada lá em Paraty. Também tive meu feriadão de percalços numa tal "Pousada do Careca", na companhia de um grupelho muito doido, cujos componentes você conhece. Uma, inclusive, é figurinha fácil! Está nas suas lembranças de Lumiar, nas minhas de Paraty e nas de um montão de gente, tendo como cenário vários lugares por aí afora. A lourinha é rodada!
    Mas, voltando ao lance dos seus capítulos: só deu pra molhar o bico, pô! Vá tratando de completar o servicinho! E já pense em como dar sequência ao tema. Afinal, depois do polenguinho, deveria vir o diminuto!
    Beiju!

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  3. Ah! E também deve ter parentesco com o dono de uma tar de Pensão Vermelha lá em Ouro Preto, quando também tivemos por companhia um grupo muito, muito, muito interessante (creio que você também conhece todos os integrantes. Inclusive a tal loura rodada, né? Meu bico também ficou molhado. Espero o polenguinho e as outras coisinhas que a diudiu citou acima.
    Beijos,
    Soninha

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  4. Enganou-se, Renata. Foi a única referência que jamais fiz ao afastamento dele. Não há porque reconciliar o que, oficialmente, nunca se quebrou. Verás (puta merda, num tenho uma linha escrita) que feitas as apresentações dos personagens, só rola tolices. Este é o mote do bblog "Memórias e tolices". Posso lhe dar duas sugestões, caso tenha tempo e saco, é claro: pega os posts "A flor" e "A glória de Edisom". Um é o único post triste desses 28 que já escrevi e o outro conta uma sucessão de tolices deliciosas.
    Grande beijo

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  5. Vulga Diu-Diu

    Este blog tem como principal característica relatar, como maior fidelidade possível, a minha versão dos fatos -- que pode até ser equivocada, mas é a que se consolidou com verdadeira para mim. E aguarde; VOU ESCREVER, DIMINUTAMENTE, UM POST SOBRE A ORIGEM DO DIMINUTO. AH, O ÚNICO POST QUE TEM UM CADINHO DE INVENÇÃO é "Pneu furado", embora o cerne da história seja real.

    beijos

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  6. Tô vendo a quanas anda nossa educação fiscal...Se quem tem que educar, fica lendo blogs bobos como este... bem, a quase uma anrense é besteira perguntar se conhece o Aquidabã. pois leia os 4 posts sobre "Carnaval em Angra". elucidativos...

    beijo, Soninha

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  7. Compadre,
    Como disse pra vc, fiquei enciumada de não ter aparecido no primeiro capítulo e o "escafedido" ter tido tanto destaque... Mas eu sabia que vc não ia me deixar na mão. ´Brigada pelos elogios!
    Só pra constar, por motivos de força maior eu ainda não desisti de Publicidade, lembra? Como dizia o Marlon Brando, ou o Al Pacino (num lembro)em algum Poderoso Chefão: "When I think I'm out they pull me back in..."

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