quinta-feira, 3 de junho de 2010

Guia

Ainda hoje continuo a passar dias em Volta Redonda. Já teve umas duas vezes em que fiquei uma semana direto na casa que era do meu pai e atualmente é da Norinha. Desde que se separou de Natasha, há dois anos, Chris, meu sobrinho, voltou a morar num quarto com banheiro nos fundos, com entrada independente.

Há uns três anos, quando ainda tínhamos carro – um Pegeout 206, ano 2004 – que vendemos no fim do ano passado, fomos passar um fim de semana no Voltaço. Sempre ficávamos no Bela Vista, um hotel ótimo, da própria C.S.N., que montou um hotel legal por conta dos gringos, principalmente americanos, que vinham dar consultoria na companhia.

Somos em cinco, o que inviabilizava nossa permanência na casa de minha irmã; uma única vez, ficamos na casa do André, enchendo com nossas presenças uma casa grande, bonita e confortável, mas que não fora projetada para abrigar nove pessoas.

Sei que Códia e André tiveram que deixar o quarto deles, ocupado por Claudia, eu, João e Caio; Clarinha dormiu com Ana Júlia. Códia, do André, dormiu no quarto do filho, Andrezinho, enquanto o André dormiu num quarto na cobertura. Acho que o prédio tem apenas quatro apartamentos, sendo que os do segundo andar tinham mais um pavimento.

Ou seja, já conhecíamos de cor e salteado o apartamento do André, mas nunca acertávamos o caminho. André e família moravam no Jardim Amália II, bairro colado no Jardim Amália, onde até hoje seu André e dona Leila moram num casarão que abrigara, muito confortavelmente, os pais do André e os seis filhos do casal: três homens e três mulheres.

Esse senso de “desorientação” não era de se estranhar em mim. Eu me perdia até em Viçosa, uma microcidade encravada nas montanhas de Minas e que em 1979, quando fui estudar lá, não tinha mais de 40 mil habitantes. Mas acho eu minha antice contaminava a Claudia também, de modos que nunca acertávamos o caminho.

Até que numa de nossas idas a Volta, combinamos de lanchar na casa do André.

-- ... só tem um problema – ponderava ao telefone com o André. – A gente sempre se perde quando vai à sua casa.

-- Num tem problema, Erão. Quando estiver entrando no Jardim Amália II me liga e eu guio vocês. Mas pega a rua Fulano e Tal e me liga. Num vai ter erro – prometeu André.

Assim fizemos. Quando chegamos a rua Fulano de Tal, eu, eterno no banco de carona, pois não dirijo, liguei do celular para a casa do André.

-- Alô? André? Tudo bem, miguim? Bem, já chegamos na Fulano de Tal... – disse.

-- Agora é só subir... Já estou vendo vocês... – respondeu André.

A tarde estava linda. Castanho-clara. O sol não demoraria a se pôr. Fui interrompido em minha contemplação pela recomendação do André:

-- Olha à sua esquerda. Agora, num tem erro.

Olhei na direção que ele mandara e imediatamente me pus a gargalhar. Do lado esquerdo, havia um imenso terreno baldio e um morro, onde estavam assentadas várias casas. Eis que numa janela, surge uma bunda nua. Imediatamente avisei às crianças e a Claudia.

-- É só seguir a bunda – disse, gargalhando, para Claudia que, assim como o trio, chorava de rir.

André ria alto ao telefone.

-- Hummm... Que ventinho bom – ouvi do outro lado da linha, antes dele desligar.

Com aquela abundancia de informações chegamos rapidinho ao destino.

As crianças estavam hiper-excitadas e ansiosas para que chegássemos logo à casa do tio André.

É por esta e outras que os três adoram o André.

4 comentários:

  1. Como é bom começar o dia lendo um texto como este. Lembrei da minha querida tia Luciria que fazia uma ambrosia como ninguém e deixava eu trepar no pé de siriguela pra comer a vontade. Saudades da infancia em José Bonifácio, interior de Sampa. Fiquei feliz que vc escreveu, depois de tanto tempo. Abs, Jê.
    http://www.vizinhosdeutero.blogspot.com

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  2. desculpe a demora em comentar seu post, jemima. a gente pode até sair do interior, mas o interior num sai da gente. este caso da bunda na janela foi um caso recente, e é íncrivel como as lembranças são mais vívidas quanto mais distantes ficam. É que acho que quanto mais o tempo passa, mais nossa versão dos fatos s e cristaliza. Suggestão: dê uma lida em "pneu furado" e "dois perdidos num porta-malas escuro",. Recomendo-os, porque são mais curtos. beijos

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  3. Por esta e outras que um dia eu coloco a minha bunda na janela de Miguel e fico esperando você, a Claudia e as crianças.

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  4. Num precisa de tanto, décio. dia desse prometo que a gente combina e segue para Miguel. Hoje é dia 15. conseguiu formatar aquela escaleta?

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