sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Lagartixa em Ipanema 3.4

Não sem antes dar-nos uma notícia bombástica. Relevante para nós, por conta da Anita, pois para o Lagartixa,
a gente tava pouco se lixando.

-- Nós fomos expulsos do morro – proferiu o sujeito, quando conseguiu balbuciar alguma coisa que fazia sentido. – Não sei o que houve. Estava subindo o Cantagalo, voltando de um bico de pedreiro num apartamento na Barão da Torre, quando o chefe do tráfico do morro, um negão imenso, o Tolete, e mais uns quatro armados até os dentes, me impediram que eu entrasse em casa. Acho que decidiram tomar o barraco por causa da vista.

Eu e Dudu nos entreolhamos. Eram notórias a ingerência e a desfaçatez do tráfico em qualquer morro do Rio de Janeiro. Os caras barbarizam moradores em luta contra a polícia e usam a população das favelas como massa de manobra. Como o Estado só sobe o morro para vandalizar e matar com sua polícia corrupta, os traficantes adotam uma função assistencialista. Pagam tratamento de saúde, compram remédios, bancam festa de debutante.... Acabam ganhando a simpatia de muitos moradores, o que lhe é muito conveniente na hora do pega para capar, quando os policiais sobem o morro.

Mas conhecendo a fama de Gilmar, era óbvio que aquela história era cascata!

Era bem mais provável que ele pegou pó para revender e não pagara ao cara do tráfico. A ficha de antecedentes, agravada pela voz oscilante e por aquele olhar 220 volts, nos dizia que ainda havia resquícios de pó do “banho” que dera no traficante na nareba do Lagartixa.

Pobre Anita, pensava eu, enquanto ouvia a versão mentirosa de Gilmar. Ainda bem que ela era idolatrada por muitos. Não teria dificuldade para encontrar um pouso. Só teria que se desfazer daquele traste do filho, um marmanjo de uns 35 anos que nada fazia, além de constranger a mãe.

Soubemos que ela ficou morando um tempo no apartamento do Touro, até se mudar definitivamente para a casa do Faria, quando o irmão se casou e mudou para outro apê com a mulher. O Lagartixa ficou na pista, ou melhor, foi morar na Baixada Fluminense, com uma tia, acho que em Belford Roxo. Faria não quis saber dele morando consigo.

A versão do Lagartixa, como suspeitávamos, era mentira. Ele sequer subiu o morro depois de ter dado um “banho” no Cocô Parrudo, ou melhor, no Tolete, o traficante local.
Um vizinho o avisara no asfalto que ele, Lagartixai, estava jurado de morte e o tráfico tinha invadido a casa onde vivia com Anita e tinha posto fogo em tudo que encontraram pela frente: cama, colchão, mesa, roupas, tudo.

Quem contou isso pra gente foi o Faria, pelo que conseguira filtrar da Anita, que como toda mãe, zelava irracionalmente pela reputação do filho.

A versão de Anita era muito mais amena e favorável ao Lagartixa. Ela estava sempre pronta a perdoar e minimizar os erros do filho. a quem sempre passava a mão na cabeça. E era comum lamentar a falta de sorte de Gilmar, “que nunca tinha tido oportunidade na vida”.

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