terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

TS 1.4

T.S. . Turma de Sacanagem. A gente nunca tinha ouvido falar, mas pareceu a todos uma idéia promissora. Quem veio com esta história foi o Osvaldo, irmão mais velho do Paulinho Cabeção, quando, “alemães” que eram, se infiltraram na nossa turma. Osvaldo, com minha ajuda – culpa já assumida e prontamente desculpada – chegou a tocar o apito de líder. Por pouco tempo, graças a Deus.


Uma T.S. seria um bando de moleques – nós, bocós por completo, sem o menor traquejo em investidas agressivas -- concentrado em ações terroristas a namorados, cachorros, vizinhos mais velhos e o que mais pudesse se tornar um alvo em potencial. E não haveria de ter alvos, prometia, exagerando o tom, o Osvaldo.

Nós, os bocós, éramos sete pacíficos garotos (tínhamos entre 11 e 14 anos): eu (morador da casa 30 da rua 27), Samuel (da casa 24), os irmãos Marco e David (do número 20) e mais três guris da rua 20, uma das quatro transversais da 27, que separava meu quarteirão do das casas do Muel e de Marco & David. Minto: na época do Osvaldo, estávamos brigados com o Cláudio Esperança. Os únicos da 20 a integrarem nossa turma era o Vito (o nome verdadeiro deve ser o mesmo de um clássico da literatura eslava, Wilkens) e o Nem (apelido mais plausível para um simplório Aloísio).

Irmãos com uns quatro anos de diferença, Osvaldo e Paulinho moravam na mesma 27. A exatas quatro casas e mais uma ruazinha transversal, a 22, da minha. Um continente de distância, hábitos e língua diferentes – não, não, língua não -- em nossa imaginação de criança.

Não me lembro do ponto de contato. Acho que o Osvaldo queria agarrar num time - desde que o Topo Gigio, mítico time no qual ele era goleiro, e Paulinho, reserva absoluto, pois era um zagueiro muito do perna-de-pau, fora extinto ele não mais jogara. E via potencial em nosso time, os Falcões – plágio descarado do Águia, equipe que só reunia gente da rua 22. O Águia media forças com o Topo Gigio pela hegemonia dos campinhos que pipocavam na 27, às margens de um afluente do rio Brandão.
Osvaldo era bom goleiro, embora se achasse muito melhor do que realmente era. Muito exagerado, tinha como hábito de abrir excessivamente a boca, como a salientar a importância do fato que protagonizara ou testemunhara. Valera-se de ser mais velho e suficientemente maduro para assumir o controle de nossa turma – que tinha dois moleques de 10 anos, David e Muel; eu tinha 11; e Marcos e Nem, 12. Vito ou Wilkens era da idade do Osvaldo, 14 para 15, mas intelecto e sensibilidade não eram nem Tico nem Teco na cachola dele.

Um exemplo da sagacidade do brutamontes. Certa vez, aflita com o destino das borboletas implacavelmente caçadas por Wilkens, Nora, minha irmã, pediu, chorosa:
-- Num mata elas não, Vito.
-- Num tô matando não, Norinha – tranqüilizou-a o toupeira, completando a sentença: -- Só estou arrancando as cabecinhas.
Nosso time tinha dois caras bons de bola: eu e o Nem, que éramos magros de ruim (eu ainda sou); o Vito, truculento e vigoroso zagueiro – do pescoço para baixo, bordoada não era falta; Marquinhos, David, Muel e Paulinho eram uma mulambada só.
Mas o Osvaldo viu em nós mais do que apenas um bando que jogava bola.

2 comentários:

  1. é, meu caro, você precisa entrar em contato com algum roteirista pra dar uma dramatizada geral e fazer tudo isso virar filme.

    se quiser, te indico alguém.

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  2. seria muita pretensão minha dramatizar tudo isso e transformar num roteiro, décio. Lhe agradeço e fico lisonjeado com a sugestão. ais vou continuar com este e talvez, com outro blog. mas te aviso. O caio colocou uma foto do capputio vulgo gordonzelo. vou vê-la agora.

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